quinta-feira, março 24, 2005
quarta-feira, março 23, 2005
terça-feira, março 22, 2005
Gaivota fora de sítio
Cena única - Uma bela gaivota passeia-se pela estrada, a seguir a uma rotunda. Todos abrandam, formando-se, até, uma fila de carros. Ninguém quer atropelar a ave fora de sítio, contemplam-na embevecidos. O trajecto continua, sem precalços. E se fosse uma pessoa, quem não teria apitado?
domingo, março 20, 2005
Precisão
O que me tranquiliza
é que tudo o que existe, existe
com uma precisão absoluta.
O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete
não transborda nem uma fração de milímetro
além do tamanho de uma cabeça de alfinete.
Tudo o que existe é de uma grande exatidão.
Pena é que a maior parte do que existe
com essa exatidão
nos é tecnicamente invisível.
O bom é que a verdade chega a nós
como um sentido secreto das coisas.
Nós terminamos adivinhando, confusos,
a perfeição.
Clarice Lispector (Brasil - 1925-1977)
é que tudo o que existe, existe
com uma precisão absoluta.
O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete
não transborda nem uma fração de milímetro
além do tamanho de uma cabeça de alfinete.
Tudo o que existe é de uma grande exatidão.
Pena é que a maior parte do que existe
com essa exatidão
nos é tecnicamente invisível.
O bom é que a verdade chega a nós
como um sentido secreto das coisas.
Nós terminamos adivinhando, confusos,
a perfeição.
Clarice Lispector (Brasil - 1925-1977)
Por muito tempo achei que a ausência é falta.
Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
Carlos Drummond de Andrade (Brasil - 1902-1987)
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
Carlos Drummond de Andrade (Brasil - 1902-1987)
terça-feira, março 15, 2005
E. E. Cummings ( E.U.A. 1894 - 1962 )
Spring is like a perhaps hand
(which comes carefully
out of Nowhere) arranging
a window, into which people look (while
people stare
arranging and changing placing
carefully there a strange
thing and a known thing here) and
changing everything carefully
spring is like a perhaps
Hand in a window
(carefully to
and fro moving New and
Old things, while
people stare carefully
moving a perhaps
fraction of flower here placing
an inch of air there) and
without breaking anything.
(which comes carefully
out of Nowhere) arranging
a window, into which people look (while
people stare
arranging and changing placing
carefully there a strange
thing and a known thing here) and
changing everything carefully
spring is like a perhaps
Hand in a window
(carefully to
and fro moving New and
Old things, while
people stare carefully
moving a perhaps
fraction of flower here placing
an inch of air there) and
without breaking anything.
quinta-feira, março 10, 2005
domingo, março 06, 2005
Homens que são como projectos de casas
Homens que são como projectos de casas
Em suas varandas inclinadas para o mundo
Homens nas varandas voltadas para a velhice
Muito danificados pelas intempéries
Homens cheios de vasilhas esperando a chuva
Parados à espera
De um companheiro possível para o diálogo interior
Homens muito voltados para um modo de ver
Um olhar fixo como quem vem caminhando ao encontro
De si mesmo
Homens tão impreparados tão desprevenidos
Para se receber
Homens à chuva com as mãos nos olhos
Imaginando relâmpagos
Homens abrindo lume
Para enxugar o rosto para fechar os olhos
Tão impreparados tão desprevenidos
Tão confusos à espera de um sistema solar
Onde seja possível uma sombra maior
Daniel Faria (1971-1999), Homens que são como lugares mal situados. Fundação Manuel Leão. Porto,1998
Em suas varandas inclinadas para o mundo
Homens nas varandas voltadas para a velhice
Muito danificados pelas intempéries
Homens cheios de vasilhas esperando a chuva
Parados à espera
De um companheiro possível para o diálogo interior
Homens muito voltados para um modo de ver
Um olhar fixo como quem vem caminhando ao encontro
De si mesmo
Homens tão impreparados tão desprevenidos
Para se receber
Homens à chuva com as mãos nos olhos
Imaginando relâmpagos
Homens abrindo lume
Para enxugar o rosto para fechar os olhos
Tão impreparados tão desprevenidos
Tão confusos à espera de um sistema solar
Onde seja possível uma sombra maior
Daniel Faria (1971-1999), Homens que são como lugares mal situados. Fundação Manuel Leão. Porto,1998
sexta-feira, março 04, 2005
quarta-feira, março 02, 2005
Alguns gostam de poesia
Alguns -
quer dizer nem todos.
Nem a memória de todos, mas a minoria.
Excluindo escolas, onde se deve
e os próprios poetas,
serão talvez dois em mil.
Gostam -
mas também se gosta de canja de massa,
gosta-se da lisonja e da cor azul,
gosta-se de um velho cachecol,
gosta-se de levar a sua avante,
gosta-se de fazer festas a um cão.
De poesia -
mas o que é a poesia?
Algumas respostas vagas
já foram dadas,
mas eu não sei e não sei, e a isto me agarro
como a um corrimão providencial.
Wislawa Szymborska, in Koniek i poczatek ( Fim e princípio), 1993
diziam-me, o vocabulário
diziam-me, o vocabulário de
deus é perfeito e só
acedo a uma frase em
círculo fechado onde o deus que
existe é dom de um
vocabulário teu,
depois entravam na minha
boca e ali ficavam
Valter Hugo Mãe, in O resto da minha alegria. FCD, 1ª ed. 2003
BAD SONGS
As canções que não valem nada
e de que me lembro
comovem-me
como se encontrasse
uma pessoa de família.
Banda sonora dos amores castos
e meticulosos,
ó canções da experiência
humana, de que banalidade
era feita minha glória.
No autocarro do colégio
havia alguma verdade
nos versos evidentes
e nas melodias,
o amor podia ser
intransitivo e inconfessável
mas também o gozo
infeliz e bom
de uma sóbria intimidade.
Pedro Mexia, in Em memória. Gótica, Lisboa 2000
As canções que não valem nada
e de que me lembro
comovem-me
como se encontrasse
uma pessoa de família.
Banda sonora dos amores castos
e meticulosos,
ó canções da experiência
humana, de que banalidade
era feita minha glória.
No autocarro do colégio
havia alguma verdade
nos versos evidentes
e nas melodias,
o amor podia ser
intransitivo e inconfessável
mas também o gozo
infeliz e bom
de uma sóbria intimidade.
Pedro Mexia, in Em memória. Gótica, Lisboa 2000
A MODERNIDADE
Na vida moderna a margem é tudo.
Isto de uma pessoa ter sido bem educada é uma grande desvantagem nos dias que correm. Fecha-nos tantas portas!
Na vida moderna, nada produz um efeito tão aprazível como uma boa banalidade. Torna-nos uma grande família.
Não há nada mais perigoso do que ser demasiado moderno. Corre-se o risco de rapidamente se ficar antiquado.
Oscar Wilde (Dublin, 1854 - Paris,1900)
Pequeno Momento de POESIA
Wislava Szymborska (Cracóvia 1923 - ). Prémio Nobel 1996
Nada exijo
do lago junto ao bosque,
ora esmeralda,
ora safira,
ora negro.
Numa coisa discordo.
No meu retorno lá.
O privilégio da presença-
prescindo dele.
Sobrevivi-te o suficiente
e apenas o suficiente
para pensar de longe.
in Koniek i poczatek (Fim e princípio), 1993
Nada exijo
do lago junto ao bosque,
ora esmeralda,
ora safira,
ora negro.
Numa coisa discordo.
No meu retorno lá.
O privilégio da presença-
prescindo dele.
Sobrevivi-te o suficiente
e apenas o suficiente
para pensar de longe.
in Koniek i poczatek (Fim e princípio), 1993
terça-feira, março 01, 2005
Sunday Bloody Sunday
There's been a lot of talk about this next song
Maybe, maybe too much talk
This song is not a rebel song
This song is Sunday Bloody Sunday
Oh I can't believe the news today
I can't close my eyes
And make it go away
How long...
How long must we sing this song?
How long? How long...
'cause tonight... we can be as one
Tonight...
Broken bottles under children's feet
And bodies strewn across the dead end street
But I won't heed the battle call
Puts my back upMy back up against the wall
Sunday, Bloody Sunday
SundaySunday, Bloody Sunday
Sunday
Sunday, Bloody Sunday
Sunday, Bloody Sunday
Alright let's go
And the battle's just begun
There's many lost, but tell me who has won?
The trench is dug within our hearts
And mothers children, brothers, sisters
Torn apart
Sunday, Bloody Sunday
SundaySunday, Bloody Sunday
Sunday
How long...
How long must we sing this song?
How long? How long...Tonight
... we can be as one
Night
Tonight...
Nigh
Tonight, tonight, tonight
Night, ah
Tonight
Yeah, give it up
Two, one
Wipe your tears away
Wipe your tears away
Wipe your tears away
Wipe your tears away
Sunday, Bloody Sunday
Wipe your tears away
Sunday, Bloody Sunday
Sunday, Bloody Sunday
Sunday, Bloody Sunday
Sunday, Bloody Sunday
Sunday, Bloody Sunday
I'm so sick of it
Yeah, rev it up, two one
And it's true we are immune
When fact is fiction, TV reality
And today the millions cry
We eat and drink while tomorrow they die
The real battle just begun
Sunday, Bloody Sunday
To claim the victory Jesus won
Sunday, Bloody Sunday
On...Sunday Bloody Sunday
Sunday Bloody
Sunday
Sunday Bloody Sunday
Sunday Bloody Sunday
Sunday Bloody Sunday
Sunday Bloody Sunday
There is only one flag, the white flag
( tal como foi cantada ao vivo, na Alemanha)
Maybe, maybe too much talk
This song is not a rebel song
This song is Sunday Bloody Sunday
Oh I can't believe the news today
I can't close my eyes
And make it go away
How long...
How long must we sing this song?
How long? How long...
'cause tonight... we can be as one
Tonight...
Broken bottles under children's feet
And bodies strewn across the dead end street
But I won't heed the battle call
Puts my back upMy back up against the wall
Sunday, Bloody Sunday
SundaySunday, Bloody Sunday
Sunday
Sunday, Bloody Sunday
Sunday, Bloody Sunday
Alright let's go
And the battle's just begun
There's many lost, but tell me who has won?
The trench is dug within our hearts
And mothers children, brothers, sisters
Torn apart
Sunday, Bloody Sunday
SundaySunday, Bloody Sunday
Sunday
How long...
How long must we sing this song?
How long? How long...Tonight
... we can be as one
Night
Tonight...
Nigh
Tonight, tonight, tonight
Night, ah
Tonight
Yeah, give it up
Two, one
Wipe your tears away
Wipe your tears away
Wipe your tears away
Wipe your tears away
Sunday, Bloody Sunday
Wipe your tears away
Sunday, Bloody Sunday
Sunday, Bloody Sunday
Sunday, Bloody Sunday
Sunday, Bloody Sunday
Sunday, Bloody Sunday
I'm so sick of it
Yeah, rev it up, two one
And it's true we are immune
When fact is fiction, TV reality
And today the millions cry
We eat and drink while tomorrow they die
The real battle just begun
Sunday, Bloody Sunday
To claim the victory Jesus won
Sunday, Bloody Sunday
On...Sunday Bloody Sunday
Sunday Bloody
Sunday
Sunday Bloody Sunday
Sunday Bloody Sunday
Sunday Bloody Sunday
Sunday Bloody Sunday
There is only one flag, the white flag
( tal como foi cantada ao vivo, na Alemanha)
Crónica do 1º de Março
Eu sou fã dos U2. Gosto de os ouvir. Gosto de os ver actuar (nunca os vi ao vivo, mas já vi alguns DVDs - esse extraordinário produto da tecnologia moderna). Energia não falta a estes senhores. 2o anos depois ainda por aí andam a provocar verdadeiras ondas de histerismo colectivo. Gostaria de poder, finalmente, poder vê-los em carne e osso, partilhar a mesma dimensão espaço/tempo com eles. 14 de Agosto! É claro que ainda não vai ser este ano. É claro que não consegui um mísero bilhete.
Eis o que tenho aprendido sobre a vida em Portugal, baseando-me no festival trágico-cómico, eu direi mesmo, patético-absurdo, surrealista, que tem rodeado uma coisa aparentemente tão simples, que é uma venda de bilhetes para um espectáculo:
nº1: quando uma promotora decide introduzir novidades numa venda de bilhetes [a saber, venda faseada - ou será obstipada? - dos mesmos; criação de boatos sobre locais de venda disponíveis; alargamento de postos de venda a uma rede de gasolineiras, em troca de não sei quantos pontos num cartão - esperem lá, afinal sem restrições, não é preciso pontos, iuuupiiii!; venda quase secreta nos MB - dirija-se a um perto de si e verificará que já estão esgotados (quando ainda não estão sequer disponíveis), (ouvi dizer que houve 10 felizardos que o conseguiram assim! - será verdade ou uma lenda?)] só faz o que, pouco comummente se chama, necessidades fisiológicas de carácter sólido - M***A! - da mais pestilenta que se cheirou à porta de qualquer FNAC, agência ABEP ou referida gasolineira (cujo nome, ainda não percebi bem porquê, me recuso "pronunciar");
nº2: só Lisboa tem direito a cultura e eventos deste género. Lisboa tem a Fnac, agências ABEP, 3 postos de gasolina com direitos de venda. O Porto terá estas coisas também, mas com o mesmo número? A dita, cujo nome me recuso pronunciar, vendeu 650 bilhetes em Braga e 700 em Setúbal. Não havia mais. Esgotou. Mas não eram mais? Centenas de pessoas rumaram ao Sul, passaram a noite ao relento, em vão. Existem 12 gasolineiras que disponibilizam bilhetes (20000 no total, mas a informação não é segura, claro, como tudo o que se refere a esta palhaçada!). A avaliar pelo número distribuído pelas mesmas, faltam muitos bilhetes. Onde andam eles? Pelos vistos, a venda será adiada para o dia do concerto, a decuplicar no mínimo...
nº3: os portugueses são criaturas altamente adaptáveis às circunstâncias. Queixam-se, berram indignados, mas acabam por se juntar a eles. Como diz uma "tartaruga" minha amiga, se os portugueses demonstrassem todo este empenho e dedicação em todos os aspectos das suas vidas, viveríamos num super-país.
Por mim, recuso-me a juntar-me a este festival. Não sou ovelhinha para me deixar conduzir por estes palhaços que deveriam ser proíbidos de exercer a actividade de promoção de espectáculos. Não possuo o espírito de sacrifício das pessoas que moveram céus e terra para conseguirem a tirinha de papel mágico que lhes garante o acesso ao céu. I guess I'm not a true U2 fan, then! Vou ter de continuar a contentar-me com os DVDs...
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