quinta-feira, março 30, 2006
terça-feira, março 28, 2006
Samuel Beckett
Dizer um corpo. Onde nenhum. Mente nenhuma. Onde nenhuma. Ao menos isso. Um lugar. Onde nenhum. Para o corpo. Estar lá dentro. Mover-se lá dentro. E sair. E voltar lá para dentro. Não. Sair nenhum. Voltar nenhum. Só entrar. Ficar lá dentro. Em diante lá dentro. Parado.
Tudo desde sempre. Nunca outra coisa. Nuna ter tentado. Nunca ter falhado. Não importa. Tentar outra vez. Falhar outra vez. Falhar melhor.
Primeiro o corpo. Não. Primeiro o lugar. Não. Primeiro ambos. Ora um deles. Ora o outro. Até fartar de um deles e tentar o outro. Até fartar também deste e fartar outra vez de um deles. Assim em diante. Dalgum modo em diante. Até fartar de ambos. Vomitar e partir. Para onde nem um nem outro. Até fartar desse lugar. Vomitar e voltar. Outra vez o corpo. Onde nenhum. Outra vez o lugar. Onde nenhum. Tentar outra vez. Falhar outra vez. Melhor outra vez. Ou melhor poir. Falhar pior outra vez. Ainda pior outra vez. Até fartar de vez. Vomitar de vez. Partir de vez. Onde nem um nem outro de vez. De vez e tudo.
Samuel Beckett, Pioravante marche.
Tudo desde sempre. Nunca outra coisa. Nuna ter tentado. Nunca ter falhado. Não importa. Tentar outra vez. Falhar outra vez. Falhar melhor.
Primeiro o corpo. Não. Primeiro o lugar. Não. Primeiro ambos. Ora um deles. Ora o outro. Até fartar de um deles e tentar o outro. Até fartar também deste e fartar outra vez de um deles. Assim em diante. Dalgum modo em diante. Até fartar de ambos. Vomitar e partir. Para onde nem um nem outro. Até fartar desse lugar. Vomitar e voltar. Outra vez o corpo. Onde nenhum. Outra vez o lugar. Onde nenhum. Tentar outra vez. Falhar outra vez. Melhor outra vez. Ou melhor poir. Falhar pior outra vez. Ainda pior outra vez. Até fartar de vez. Vomitar de vez. Partir de vez. Onde nem um nem outro de vez. De vez e tudo.
Samuel Beckett, Pioravante marche.
Tradução de Miguel Esteves Cardoso. O Independente / Assírio & Alvim, 1996.
sexta-feira, março 24, 2006
quarta-feira, março 22, 2006
terça-feira, março 21, 2006
Alguns gostam de poesia
Alguns-
quer dizer nem todos.
Nem a memória de todos, mas a minoria.
Excluindo escolas, onde se deve
e os próprios poetas,
serão talvez dois em mil.
Gostam -
mas também se gosta de canja de massa,
gosta-se da lisonja e da cor azul,
gosta-se de um velho cachecol,
gosta-se de levar a sua avante,
gosta-se de fazer festas a um cão.
De poesia -
mas o que é a poesia?
Algumas respostas vagas
já foram dadas,
mas eu não sei e não sei, e a isto me agarro
como a um corrimão providencial.
Wislawa Szymborska (Prémio Nobel 1996)
in Koniek i Poczatek ( Fim e Princípio), 1993.
quer dizer nem todos.
Nem a memória de todos, mas a minoria.
Excluindo escolas, onde se deve
e os próprios poetas,
serão talvez dois em mil.
Gostam -
mas também se gosta de canja de massa,
gosta-se da lisonja e da cor azul,
gosta-se de um velho cachecol,
gosta-se de levar a sua avante,
gosta-se de fazer festas a um cão.
De poesia -
mas o que é a poesia?
Algumas respostas vagas
já foram dadas,
mas eu não sei e não sei, e a isto me agarro
como a um corrimão providencial.
Wislawa Szymborska (Prémio Nobel 1996)
in Koniek i Poczatek ( Fim e Princípio), 1993.
sábado, março 18, 2006
terça-feira, março 14, 2006
segunda-feira, março 13, 2006
Frida Kahlo no CCB
Recomendo, apesar de considerar exagerada a ideia de que se trata da "grande exposição do ano". Se calhar, até é! Por vezes esqueço-me de que estou em Portugal. É certo que os trajes tradicionais de tehuana e o altar de mortos complementam o conhecimento da reduzida mas complexa obra da maior pintora do século XX. Mas a sensação final é de que as expectativas eram demasiadamente elevadas.
quinta-feira, março 09, 2006
Vais ter de olhar para o que vês. Mas vais ter de olhar absolutamente. Vais tentar olhar até ao apagamento do teu olhar, até à sua própria cegueira, e através dela deves continuar a tentar olhar. Até ao fim.
Perguntas-me: olhar o quê?
E eu digo, bem, digo o mar, sim, essa palavra, à tua frente, essas paredes à frente do mar, esses desaparecimentos sucessivos, esse cão, esse litoral, essa ave sob o vento atlântico.
Marguerite Duras, Textos Secretos.
Perguntas-me: olhar o quê?
E eu digo, bem, digo o mar, sim, essa palavra, à tua frente, essas paredes à frente do mar, esses desaparecimentos sucessivos, esse cão, esse litoral, essa ave sob o vento atlântico.
Marguerite Duras, Textos Secretos.
sexta-feira, março 03, 2006
quinta-feira, março 02, 2006
quarta-feira, março 01, 2006
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